Por Joadson Mulkannizzer*
*Joadson Mulkannizzer é Bacharel em Cinema e Audiovisual pela UESB e participou da primeira edição do Cine em Cena, em 2015. Neste ano veio de Brumado exclusivamente para acompanhar a 3ª Edição do Projeto.
Gostou? Confira alguns detalhes de como foi a segunda edição do Cine em Cena, em 2016.
Neste ano de 2017, o curso de
Cinema e Audiovisual, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, nos
concede o imenso prazer de vivenciarmos a tremenda magia do teatro em um
festival denominado 3ª Mostra Cine em Cena, mostra pública de cenas de teatro, dirigidas
pelos alunos da disciplina Direção de Atores, 6° semestre, que conta com um elenco formado por atores e não
atores locais,
tendo como diretora geral a Professora Adriana Amorim.
O espetáculo já nos cativa desde
o momento inicial, quando nos adentramos ao Teatro Carlos Jehovah e já nos deparamos
com uma menina deitada sobre uma mesa, coberta por um lençol. A obra Uma
Adolescente Robô, de Bruno Motta e Daniel de Alves, que foi dirigida e
adaptada pela estudante Emanuelle Menezes, é uma peça cômica,
divertida e bem representada pelo elenco, formado por
quatro atores que prendem a nossa atenção do início ao fim. Apresenta uma linguagem
facilmente compreendida pelo público, retratando as loucuras de um jovem cientista, evolvendo o real e o
imaginário, a vida e a fantasia. A peça abre com chave de ouro o
Cine em Cena 2017.
Dando segmento às
apresentações, temos uma bela jovem, sobre uma escada, que representa Julieta,
do clássico de Shakespeare, Romeu e Julieta, em uma cena adaptada, Jardim Dos
Capuletos, dirigida pela estudante Regiane Matos. Uma apresentação que não usou
muitos objetos cênicos, mas que embelezou o que foi usado, enfeitando a escada
com diversas flores. A obra se baseava em uma conversa entre Romeu e Julieta,
onde podíamos ver Julieta, mas apenas ouvir Romeu, através de uma gravação. Em
alguns momentos a gravação que representava os diálogos de Romeu demorava um
pouco para surgir e deixava a atriz aguardando como se houvesse algum tipo de delay no som, mas, mesmo com os
pequenos atrasos das falas, a cena não perdeu o encantamento.
Já na terceira apresentação,
Sacrifício De Odin, uma adaptação do estudante Micael Aquillah para o texto de O
Pagador de Promessas, de Dias Gomes, o que me chama a atenção inicialmente são
os figurinos e desenhos feitos nos corpos dos atores, que por serem tão bem
desenhados, me fizeram pensar “são tatuagens reais ou fictícias?”. E,
sucessivamente, a atuação dos atores me leva a apreciar cada detalhe desta
representação, pois, até mesmo através dos olhares, os atores atuavam e nos
concediam palavras que não eram ditas pela boca, mas expressadas pelos olhares.
A quarta apresentação da noite, Quarto de Hotel, uma adaptação da estudante Eliana Souza, da obra Beijo no Asfalto, do
texto de Nelson Rodrigues, foi uma das apresentações mais rápidas, porém,
super objetiva. Apenas dois atores em cena, em um diálogo revelador que nos
mostrava uma discussão entre genro e sogro. Em apenas alguns minutos, a
trajetória mais parece uma montanha russa, nos levando às mais altas e baixas
revelações.
Não Me Cegue, uma adaptação da
estudante Marianne Vieira, da obra Não Me Cegue, de Marcus Di Bello, nos mostra
o convívio de um casal aparentemente apaixonado e de uma moça enferma, que
provavelmente vê na bebida a solução para seus problemas. A trama tem uma
jogada bem interessante para a criação da cena, onde os atores vivem duas cenas
distintas, a do casal e a da moça, e que são vividas simultaneamente, porém,
quando uma cena está sendo representada, a outra permanece congelada. E se já
não bastasse a jogada de cena na atuação dos atores, o figurino dos mesmos nos
cativa, não por suas roupas completamente pretas, mas pelas faixas que cobriam
os olhos de todos os atores em cena, dando a entender que a trama acontecia às
cegas.
A penúltima cena apresentada foi
Apenas Tua Mente Me Condena, uma adaptação do estudante Nathan Soares, da obra
Mulher Sem Pecado, também de Nelson Rodrigues. Dentre todas as peças
apresentadas neste primeiro dia, foi a que mais prendeu o meu olhar.
Primeiramente pela atuação da atriz Anna Carolina Bastos, pois já acompanhei
outros trabalhos dela como atriz e neste, especificadamente, ela demonstrou um
avanço em sua carreira, fazendo uma bela apresentação em palco; o que não quer
dizer que os outros dois atores não fizeram um bom trabalho, já que todos
estavam adequadamente incorporados em seus personagens. Porém, o que mais me
prendeu nessa cena, foi o final da mesma, quando algo dá errado na sonoplastia
e podemos perceber uma certa tensão na cabine de som, transparecendo que algo
não ocorreu conforme o planejado. Todavia, os atores que estavam em palco,
provavelmente percebendo o imprevisto, dominam o momento e não saem de seus personagens
em momento algum. O ator Luã Virgens, representando um cadeirante, neste
momento tem uma carta em suas mãos, que deveria estar sendo “lida” através de
uma gravação, para que o público tomasse conhecimento das palavras ali
escritas. Enquanto o diretor e o sonoplasta tentam resolver o pequeno equívoco,
meu olhar vai diretamente para a atriz Anna Carolina, que observa o ambiente,
aguardando o momento para sair de cena, e para o ator Luã Virgens, que manuseia
a carta em suas mãos, salvando esse momento da cena, não deixando, em momento
algum, que o encantamento da cena se perdesse. O problema é resolvido de
imediato e tudo é finalizado conforme esperado.
E para finalizar a noite, uma
comédia adaptada pela estudante Miliane Vieira, cujo título era O Conflito, da
obra Fim De Caso, de Aziz Bajur. Uma cena sem muitos objetos cênicos, mas com
muitas risadas que preencheram todo o teatro. Inicialmente uma conversa entre
duas personagens, sobre as relações casuais de uma delas, que por sinal é
casada. Logo após, entra em cena a esposa desta personagem, enfurecida, e o que
seria uma simples conversa, se torna uma discussão da relação de ambas. Poderia
ser um simples diálogo, mas as atrizes dessa peça nos leva às risadas e
gargalhadas em todos os momentos, durante o enredo trabalhado por elas e também
quando há a quebra da quarta parede ao interagir com o público. Foi uma peça
simples, bem elaborada e iluminada pela atuação das atrizes. E para finalizar,
a atriz Arla Bruna, que fica sozinha no palco, levanta o copo de bebida para
dizer a sua última fala, mas ao perceber a euforia dos aplausos do público, por
pensar que a peça já havia sido finalizada, sutilmente abaixa o copo e deixa
que o público entenda que a peça ali havia acabado; um belo ato de uma bela
atriz. E sendo assim, a primeira noite
da Mostra é finalizada nos deixando a vontade de voltar, mesmo em dias
chuvosos, para acompanhar a segunda noite do evento.
E a segundo noite do Cine em Cena
já se inicia com uma bela apresentação da obra de Jorge Andrade, A Moratória, adaptada pelo estudante Raphael Flores, denominada Amarga Ilusão, tendo
apenas dois atores em cena. A cena é composta pela conversa entre pai e filha, que poderia ter se tornado uma cena
cansativa, por não ter muitos movimentos corporais dos atores, mas a atuação de
Priscila Amaral é tão marcante que faz tudo acontecer. O sofrimento e o cansaço
estampados em sua face mais parecem uma realidade e não uma cena teatral.
A segunda cena, Castigo de Júpiter,
uma adaptação da estudante Jisely Azevedo, da obra Prometeu Acorrentado, de
Ésquilo, traz uma composição interessante do drama que foi interpretado por
dois rapazes, estando um deles acorrentado. O movimento das correntes, que
batiam no chão, trazia uma essência para a cena, valorizando toda a obra
representada. Porém, em determinado momento da peça, o ator Esdras Augusto
Alves, em um movimento mais brusco, arranca as correntes que estavam presas em
alguma parte do teatro, o que provavelmente não estava previsto. O ator, percebendo o ocorrido, continua sua apresentação como se as suas correntes ainda estivessem presas. Os
dois atores prosseguem a cena e algo me chama atenção, pois, Esdras faz novos
movimentos com os braços, para que as correntes continuem a bater no chão e não
perder o encantamento da cena. Ambos finalizam a cena e não perdem, em momento
algum, a encenação que foi perfeitamente finalizada.
Da tragédia gréga à magia da
Disney, a Mostra Cine em Cena dá um salto quando Simba Se Lembra é
anunciado. Uma obra adaptada pela estudante Nathália Batista, de O Rei Leão, de
Linda Woolverton, Irene Mecchi e Jonathan Roberts. O macaco Rafiki e o pequeno
leão Simba são interpretados por dois atores, provando que, independente da
idade, a beleza dos grandes clássicos da Disney ainda existe em nossos
corações. Mais que uma peça de teatro, um ensinamento, pois, por mais que fosse
somente uma cena para um espetáculo, o diálogo que foi selecionado para
encenação dos atores mostra uma lição de Rafiki, não somente para o personagem
Simba, mas para todos que ali estavam.
A noite continua e logo podemos
nos deparar com uma comédia infernal. Lampião e Satanás, que foi adaptado pela
estudante Rossana Freitas, da obra Lampião Vai ao Inferno Buscar Maria Bonita,
de Altimar Pimentel. A cena se inicia com uma conversa entre Satanás e Deus,
onde Satanás era representado pelo ator Anderson Cleiton, enquanto Deus somente
podia ser ouvido, através de uma gravação, que em alguns poucos momentos se
tornava difícil de compreender, devido ao tom grave da voz que falava, mas que
não acarretou problemas, já que o ator em cena dava vida ao diálogo. A cena
segue e a comédia não se perde. Tudo está indo muito bem e, de repente, uma
garota entra em cena para interpretar como Lampião, o que poderia ser estranho
e um risco, por ser uma mulher fazendo um papel e um homem muito másculo e
bruto. Mas, a atuação de Chiara Lúcia nos leva a crer que ela realmente é
Lampião em todos os momentos. Os dois atores em cena compõe uma típica comédia
que cativa a todo o público.
A Mostra quase chega ao final
e a penúltima cena é apresentada, intitulada Dessa para Melhor, adaptada pela
estudante Emmilly Oliveira, da obra Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.
Foi, sem dúvidas, a peça que mais fez o público rir. As gargalhadas eram
tantas que em determinados momentos era preciso pedir o silêncio da plateia
para que a peça pudesse continuar. Uma estratégia maravilhosa foi usada, quando
a adaptação da obra usa as linhas de ônibus coletivos de Vitória da Conquista
para compor as falas dos personagens, representando os destinos das Barcas. E
por falar em barcas, acho muito interessantes peças de teatro como essa, onde
não temos a barca ali apresentada, mas os atores nos levam a criar em nossas
mentes e figurar as barcas nas quais eles estão. A encenação dos atores, o
figurino, a composição. Foi simplesmente magnífico.
E para finalizar, não somente à
noite, mas a 3ª Mostra Cine em Cena, temos a obra escrita e dirigida pelo
estudante Mateus Costa, Quando o Sol Bate na Janela de Marinete. Um roteiro
claro e objetivo. Forte e marcante. Quatro atores em cena, um rapaz e três
moças que não usam objetos, mas se tornam os objetos. Um jogo de cena
coreografado dá vida à obra. As interpretações dos atores valorizam os
personagens. E os figurinos completamente pretos demarcam o drama que ali
estava sendo encenado.
O espetáculo chega ao fim e percebo
que o nível do Cine em Cena tem aumentado com o passar dos anos. As cenas, as adaptações dramatúrgicas, as encenações, os objetos de cena, tudo. Simplesmente podemos
perceber um grande evento teatral que tem ganhado um grande espaço na cidade de
Vitória da Conquista. Parabenizo o Curso de Cinema e Audiovisual (UESB) e em
especial a Professora Adriana Amorim, pelo belo espetáculo apresentado, que nos
deixa com um gostinho de querer mais. E, sendo assim, espero ansiosamente pela
4ª edição.
FICHA TÉCNICA:
Merda!
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